domingo, 12 de outubro de 2008

Um mês e meio de Theo


Turbilhão de emoções

Nos últimos 45 dias, vivi os momentos mais intensos de toda minha vida... da mais pura alegria à mais profunda tristeza, com a diferença de poucas horas. Deixe-me começar do princípio... no domingo, dia 17 de agosto, com 33 semanas de gravidez, caminhei de casa até a praia de Ipanema, curti a praia, nadei no mar, voltei andando pra casa... à noite senti algumas cólicas, semelhantes às cólicas menstruais. Na segunda-feira, acordei bem, as cólicas passaram e eu fui trabalhar. Na quarta-feira de manhã, comecei a sentir novamente as cólicas, desta vez acompanhadas de leves contrações. Liguei para o obstetra e fui ao consultório para que ele me examinasse. Ele constatou que eu realmente estava tendo contrações e que meu colo do útero estava começando a apagar, antes do tempo certo para isso acontecer. Me mandou tomar um remédio para inibir as contrações e marcou uma revisão para a sexta-feira seguinte. Na sexta-feira, as contrações haviam aumentado e o colo do útero estava ainda mais apagado. O obstetra pediu que eu fosse com urgência fazer uma cardiotocografia e um perfil biofísico fetal, para ver se estava tudo bem com o neném e qual era a intensidade das contrações. Resultado: eu estava realmente tendo bastante contração, porém sem regularidade e de media intensidade, mas o bebê e o útero estavam aparentemente saudáveis, sem intercorrências. De qualquer forma, tomei um inibidor ainda mais potente e duas injeções de corticóide, para acelerar o amadurecimento do pulmão do Theo caso ele nascesse antes do tempo. E repouso... Passei o sábado em casa e à noite, durante o jogo de vôlei das Olimpíadas de Pequim, comecei a sentir contrações mais fortes, com intervalos bem curtos entre uma e outra. Tentei dormir, mas durante toda a noite senti minha barriga ficar dura, e quase não voltava mais ao normal... No domingo, de manhã bem cedo, percebi que algo não ia bem, e liguei para o obstetra, que pediu que eu fosse ao hospital dentro de uma hora porque ele queria me examinar.

Dia 24/08, o dia D
Eu e Tarso chegamos à Casa de Saúde São José às 9h de um domingo de sol. Paramos antes na Lagoa para tirar duas fotos do barrigão, pressentindo que da próxima vez que eu voltasse pra casa já estaria sem ele... Dr. Humberto chegou logo em seguida, fomos para a sala de exame, ele fez o toque e deu o veredito: Theo nasceria naquele dia, ainda pela manhã, de parto cesáreo, assim que toda a equipe conseguisse chegar ao hospital. Já estava com 2 cm de dilatação e contração mantida. Esperar mais tempo seria colocar em risco a vida do bebê. Neste mesmo dia, às 16h, aconteceria o chá de fraldas do Theo, e nossa preocupação era avisar à família que Theo iria nascer em poucas horas e tentar ligar para o maior numero de pessoas Possível para avisar do nascimento e desmarcar o chá. Enquanto esperava a equipe chegar, pensei em tantas coisas... teria um filho prematuro, com 34 semanas – será que iria correr tudo bem, que ele iria nascer saudável, que ele não estava em sofrimento, que era a hora certa? E meu sonho de ter um parto natural, por que não podia se concretizar mais? E a anestesia, dói muito? Daria tempo da minha família chegar antes do parto para me confortar um pouquinho? Minha irmã conseguiria filmar e fotografar o parto? Tudo deu certo...ou quase tudo... meus pais e minha irmã chegaram a tempo, e fui pra sala de parto com Tarso e Quel.
O parto foi maravilhoso... não senti dor, e Theo chegou às 11 horas em ponto ao som de Pavarotti... É impossível descrever a emoção que senti ao ver o médico levantando meu filho para que eu pudesse vê-lo pela primeira vez... Meu coração parecia explodir ao ouvir seu choro intenso e seu corpinho tão pequeno e tão enorme ao mesmo tempo... eu queria chorar e gargalhar, queria voar dali e pegá-lo logo em meus braços, queria colocá-lo junto a mim para que ele pudesse sentir todo o amor que eu tinha para oferecer. Ele logo veio, e eu olhei cada parte do seu corpo, vi seu rosto tão lindo, tão puro, tão meu... Tarso foi cortar a pontinha do cordão umbilical, e eu continuava deitada, ouvindo o movimento e me sentindo orgulhosa por ter concluído uma obra tão perfeita, cheia de amor.
E então veio o susto... Apos 40 minutos na sala de parto, Theo começou a ter dificuldade para respirar, ficou roxinho, sem oxigênio, seu corpinho esfriou muito rápido e ele precisou ir para a UTI Neonatal.

Coração fora do corpo

Só quem passa pela experiência pode saber realmente o que é ter um filho recém-nascido na UTI Neonatal. Apitos, luzes brancas, mil aparelhos ligados. Fios, tubos, acessos. Enfermeiras, médicos, fisioterapeutas. Pia, água até os cotovelos, seca as mãos, passa gel. Bomba elétrica, sala da ordenha, tira o leite. Eu de alta 3 dias depois do parto, voltando pra casa sem meu filho nos braços. Berço vazio, peito cheio, sentimento de impotência diante da situação. Mas nunca perdi a esperança. Nem um minuto sequer achei que dali o Theo não sairia. Pelo contrario, só conseguia imaginar ele com a gente... vindo pra casa, dormindo na nossa cama, mamando, crescendo... e assim fomos enfrentando cada dia, certos de que a cada vez que entrássemos na UTI veríamos nosso filho se curando. Contamos cada fio desligado, cada tubo retirado... primeiro foi o respirador, depois o CPAP, logo saiu a nutrição, os acessos do umbigo, o sensor de temperatura corporal, a sonda... e 13 dias depois, pudemos trazer nosso filhinho pra casa, totalmente curado e saudável, pra começar sua vida ao nosso lado.

Em casa
Eu imaginava que ter filho devia ser bom demais. Mas ter um filho em casa depois de tudo isso é simplesmente maravilhoso! Estou amando cuidar do meu bebê, viver com dedicação exclusiva a ele, amamentá-lo, acompanhar seu crescimento...

Nenhum comentário: